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quarta-feira, 2 de maio de 2012

Curial e Guelfa: obra em português lançada na Califórnia

Armando Alexandre dos Santos
Cadeira n° 10 - Patrono: Brasílio Machado


A Editora eHumanista, da Universidade da California, nos Estados Unidos (www.ehumanista.ucsb.edu), acaba de lançar a primeira tradução feita para a língua portuguesa de “Curial e Guelfa”, romance de cavalaria escrito por um autor anônimo, em idioma catalão, na segunda metade do século XV.
Dessa obra existe apenas um único manuscrito, encontrado em um arquivo espanhol e que está sendo revalorizado nos últimos anos, com cuidadosas traduções, para os principais idiomas modernos, realizadas por especialistas de vários países europeus. No Brasil, ela ainda é praticamente desconhecida nos meios universitários, podendo abrir campos novos de pesquisa e aprofundamento para estudiosos de História e de Literatura.
A tradução, do catalão medieval para o português atual era tarefa que apresentava inúmeras dificuldades linguísticas e metodológicas. Foi levada a bom termo pelo meu mestre e amigo Prof. Ricardo da Costa (www.ricardocosta.com), medievalista da Universidade Federal do Espírito Santo, acadêmico correspondente no exterior da Real Academia de Belas Letras de Barcelona e membro do IVITRA (Instituto Virtual Internacional de Tradução – Universidade de Alicante). O tradutor enriqueceu o trabalho com centenas de notas explicativas, indispensáveis para o leitor moderno poder compreender e saborear devidamente o texto, que manteve rigorosa fidelidade em relação ao original catalão.
A tradução de Ricardo da Costa foi lançada nos Estados Unidos em um volume com 512 páginas. Os leitores interessados podem solicitá-la à IVITRA, responsável por sua distribuição. E-mail para os pedidos: ivitra@ua.es

                                                       * * *
Foi num contexto singular que tomei contato com Curial e sua amada Guelfa. Desconhecia completamente a existência de ambos, quando o Prof. Ricardo me contou que estava traduzindo uma novela de cavalaria escrita cem anos antes do Dom Quixote e pediu-me que o ajudasse, na revisão do português.
Passei então a conviver com os dois amantes da literatura catalã durante meses que foram, para mim, muito prazerosos e instrutivos. A obra apresenta, por trás do romance de amor entre os dois personagens do título, uma rica descrição da sociedade cavalheiresca de sua época, mostrando bem a passagem da Idade Média para o Renascimento. Ela explora um tema recorrente desde a Antiguidade até às novelas de TV que o público feminino brasileiro acompanha com tanto interesse em nossos dias: o amor entre pessoas separadas por diferenças de classe ou por inimizades familiares.
Esse tema é constante, na literatura de todos os tempos e povos. Basta lembrar os amores de Píramo e Tisbe, na Babilônia, durante o reinado da formosa e legendária Semíramis; e, mais recentemente, Romeu e Julieta, os dois amantes de Verona, tão celebrizados que até acabaram dando seu nome à deliciosa e brasileiríssima combinação de queijo-mineiro e goiabada-cascão... Isso sem falar no lendário romance dos ingleses Robert Machin e Ana de Arfet, que em plena Idade Média teriam ido aportar à linda Iha que mais tarde se denominou da Madeira.
Guelfa pertencia à alta nobreza, era irmã de um marquês soberano do Império e, sendo viúva, só poderia recasar-se com um fidalgo do seu nível, mas apaixonou-se por Curial, um jovem escudeiro de origem modesta, favorecendo-o e transformando-o no primeiro cavaleiro da Cristandade. Mesmo assim, ainda foram enormes as dificuldades enfrentadas até o happy end, lá pela 500ª. página do livro, quando afinal se casaram. Em torno do romance, inúmeras aventuras, duelos, batalhas, minuciosas descrições de banquetes, cortes e intrigas políticas, com uma participação surpreendentemente preponderante do elemento feminino na trama do romance, um retrato fascinante da Catalunha, da Itália e da França daquela época, sonhos, naufrágios, um longo cativeiro no Norte da África - tudo isso entremeando elementos cristãos com forte influência mitológica grega.
Fiquei realmente fascinado pela história dos dois personagens e sobretudo pela descrição do ambiente e da época em que figuram. É de uma riqueza impressionante. Acredito que, no Brasil, numerosos estudos e aprofundamentos ainda serão feitos nos meios acadêmicos a partir de “Curial e Guelfa”. Amostra significativa desse potencial tive em Vitória, no ano passado, quando participei de um Encontro Internacional de Filosofia Medieval no qual cinco jovens orientandos do Prof. Ricardo, ainda cursando a graduação regular em História, na UFES, apresentaram a um público altamente especializado seus trabalhos de iniciação científica, todos baseados na análise de aspectos diversos de “Curial e Guelfa”.
Quanto à qualidade excepcional da tradução de Ricardo da Costa, nem tenho palavras para exaltá-la. Só me resta recomendar a obra aos leitores. Encomendem-na à Editora. O preço é muito acessível. Custa apenas 22 dólares o exemplar. Garanto que vale muito a pena.

(Anônimo do século XV. Curial e Guelfa. Primeira tradução para o português e notas: Ricardo da Costa. Revisão: Armando Alexandre dos Santos. Estudo introdutório e edição de base: Antoni Ferrando. Foreword: Antonio Cortijo Ocaña. Textos introdutórios de Ricardo da Costa e Armando Alexandre dos Santos. Santa Bárbara: Publications of eHumanista, 2011.)

Texto publicado na

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4-Marcelo Batuíra da Cunha Losso Pedroso - Cadeira n° 15 - Patrono: Archimedes Dutra
5-Aracy Duarte Ferrari - Cadeira n° 16 - Patrono: José Mathias Bragion
6-Armando Alexandre dos Santos- Cadeira n° 10 - Patrono: Brasílio Machado
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