Lino Vitti Cadeira n° 37 - Patrono: Sebastião Ferraz
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O
quintal de minha casa é fonte de
inspiração. Muitas vezes me tem proporcionado assunto para estas inumeráveis
crônicas que há mais de 60 anos, são aceitas pelos matutinos ou semanários da
cidade das escolas, e, acredito, generosamente lidas por quem gosta de
literatura, poesia, e de todo o tipo da arte escrita.
Graças ao capricho da professora Dorayrtes que há
mais de 60 anos também suporta minhas elucubrações poéticas e minha mania de
escrever, o quintal tem de tudo, e sempre está enfeitado por um tipo de flor,
constituindo-se em atrativo de passarinhos que não pensam duas vezes em construirem
seus ninhos por entre as frondes das trepadeiras e do frondoso caramanchão.
Especial
menção merecem os bicos-de-lacre porque a construção de seu ninho é uma obra de
arte da engenharia avícola. É uma espécie de palaciozinho dotado de entrada e
corredorzinho, com o que os danadinhos vedam possíveis assaltos de outros
semelhantes, como bente-vis e pardais
que são os carrascos das avesitas e soem destruir-lhes os ninhos
e papar-lhes os ovitos ou os filhotinhos
recém-nascidos .
A
construção da moradia dos bicos-de-lacre não é facil, ao que pude constatar
durante horas de espionagem do trabalho das pequenas aves, indo e vindo, não
sei para onde, em busca de material especial pois não é qualquer fio de capim
ou graveto que pode servir para aquele lar caprichado e diferente dos demais,
como por exemplo, do das rolinhas, nada mais do que umas palhas catadas ao léu
e colocadas em forma de pratinho, sem muita engenharia ou trabalho.
Aprendi
dessas lições de avezinhas que entre os homens há também muitas diferenças na
construção e na ocupação do lar. Uns, ou melhor, muitos, no topo dos
arranha-céus quase alcançam as nuvens; outros, mostram toda arte e engenharia
humanas, enquanto a maioria se satisfaz com uma casa normal, de construção sem
muitas indagações da arte construtiva, sem muito luxo, assim como acontece
entre o ninho do bicos-de-lacre e a
rolinhas de meu quintal…
Embora
toda a diferença entre um lar e outro, posso dizer que a felicidade tanto
costuma morar no arranha-céus em riste para o infinito, quanto na casinha da favela, fabricada com toda a
humildade e sem muitos luxos. È que as famílias, em sua variedade social, ou
são ricas ou são pobres, e a casa de cada qual mostra o que é. Não quero com
isso dizendo, diminuir o status social do bico-de-lacre ou criticar a falta de
iniciativa das rolas preguiçosas, mas apenas mostrar que tanto entre homens
quanto entre outros viventes, aves ou animais, exitem acentuadas diferenças.
Estamos
diante de dois mundos, cujas diferenças se notam no universo humano quanto no
universo avícola, embora se deva levar em consideração a diversidade de
inteligência de um e de outro mundo, mas não o amor e a dedicação de cada qual
deles na construção de um lar onde se passa vida e se constitui a família, seja
a do homem, seja a das avesitas.
O
que nada impede ao poeta e escrevinhador bisonho deitar filosofia sobre este ou
aquele, flagrar os momentos felizes,
tanto para o homem quanto para o
pássaro, empenhados e dedicados em construir uma casa(ou um ninho),para abrigar
a felicidade de uma família, quer humana, quer avícola.
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