Cássio Camilo Almeida de Negri Cadeira n° 20 - Patrono: Benedicto Evangelista da Costa |
Dias atrás, revendo fotografias antigas, em preto e branco, deparei-me
com um retrato meu, ainda bebê no colo de minha mãe. Se ela não me tivesse dito
que era eu, nunca teria imaginado. Depois encontrei outra, já com mais ou menos
três anos, outra com cinco e mais outras um pouco mais velho. Em seguida
encontro todas as fotos das cadernetas escolares, do ginásio, científico e
faculdade. Coloco-as em uma sequência cronológica, e ao observar aquela
metamorfose vejo-me como um ser dinâmico na aparência física.
Vejo também as fotos de casamento e a dos filhos ainda bebês. Nesse
instante paro o tempo para que possa observar quadro-a-quadro o decorrer da
vida.
Lembro-me de já ter lido que é comum na hora da morte, a visão da vida
inteira passando pela mente do moribundo. Acho que deve ser mais ou menos isso
que acontece, como esses instantâneos que a máquina fotográfica capta e
congela.
Cada foto, como uma palito de fósforo aceso, desencadeia um incêndio
mental e todas as lembranças daquele instante afloram para a superfície da
consciência e penetro na época retratada.
Quantas lembranças boas, outras más, estas poucas.
Procuro deixá-las irem passando, sem me apegar a nenhuma delas, sem
sentir saudades, simplesmente vem e se vão.
Tempo das calças curtas, do andar descalço queimando a sola dos pés no
asfalto quente dos dias de verão. Tempo das dores de barriga antes da notas
escolares, tempo de namoro, dos filhos chegando, das tristezas, alegrias, e
cheguei até o aqui, agora. Já maduro, estável, feliz. Num exercício mental,
corro ao espelho para ver meu retrato hoje. E me imagino no amanhã, cabelos bem
branquinhos, rugas, e vou envelhecendo mais e mais, ultrapassando os limites da
imaginação. Como essa face mudou em todos esses anos, não pareço mais aquele
que era e sou outro em relação ao que serei.
Por sobre meus ombros, o sol da tarde atinge o espelho que alimenta
meus pensamentos e minha visão se ofusca com tal luminosidade.
A imagem do espelho se desvanece com o clarão. Fecho os olhos, mas
continuo a ver aquela claridade refletida. Dou-me conta, então, de que não sou
essas imagens fotográficas ou a reproduzida no espelho. Tal como o reflexo do
sol no espelho, percebo que sou o reflexo divino na vida.
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