Cezário de Campos Ferrari
Cadeira n° 12 - Patrono: Ricardo Ferraz do Amaral
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As ideias são, provavelmente, como inúmeras estrelas amontoadas entre
nuvens e miragens. Elas estão lá, distantes, ocupando cada uma o seu lugar no
ordenamento do cosmos. Inalcançáveis algumas durante um longo tempo, até que
alguém descubra o seu brilho e, tendo-a dominada em suas mãos, a exiba para
conhecimento coletivo; fáceis de encontrar outras tantas, daí se tornam comuns,
simples, meras. Quando, repentinas como uma aparição, elas explodem e surgem
maravilhosas, o mundo as recebe eufórico e delas faz uso deixando-as expostas,
à vista, e já então tais ideias tomam o nome de seus desbravadores e se tornam
propriedade humana. As ideias renovam a existência e dão um novo alento,
alegrando e trazendo o ardor de diferentes luzes, e o seu brilho enche o
espaço, ocupa posições, apaga a escuridão da ignorância. Por que o não-conhecer
é o mesmo que não ver, tal qual o ser sem saber, o estar vivo quase sem
perceber. Completa cegueira, enfim. O mundo necessita, sempre, de ideias
recém-brotadas, de novidades oriundas das tempestades cerebrais que trazem a
lume um conjunto de benefícios para melhorar a qualidade de vida dos seres
humanos. Sem isso, desprovido desse vislumbre e dos devaneios dos visionários,
é perceptível uma estagnação capaz de retardar a evolução do homem, o que faz
com que tudo se assemelhe, destarte, a repetitivos momentos de mesmice, a todos
cotidianos niilistas e sem a menor graça. E o nada é somente escuridão, espelho
do vazio, vereda tolhida por demasiados óbices, letras borradas, visão
sobejamente turva. Por sua vez o aquilo de sempre, o mesmo deprimente e suas
vertentes habituais tornam o dia após dia meio que nulo e descolorido, pois a
revelação e a surpresa são inesperadas pérolas de mudança imprescindíveis e
sempre bem-vindas. Estar vivo é não apenas aguardar a passagem do tempo, mas se
possível tentar moldá-lo, fazê-lo trabalhar em nosso prol, procurar escolhas
diferentes, pintar a lua de vermelho, por exemplo, cobrir o sol com a mão,
pintar as nuvens com cores abstratas, torná-las multicolores, o sui generis enfim. Daí o turbilhão de
ideias ser o algo mais, aquele sub-reptício toque mágico capaz de conquistar e
cativar, de acender fogueira ao redor das geleiras, de sonhar voando
porque asas surgiram do além-imaginado,
de andar de bicicleta no espaço como numa aeronave e tendo como moto propulsor
apenas a força do pensamento e da fantasia. O horizonte é vasto, sem dúvida.
Ter novas ideias é repensar a rotina, trabalhar a mente para que permaneça
sempre jovem e ativa, é fazer do diferente e do estranho o igual e o
interessante. Fará a sociedade sorrir e ser melhor. Sejam, então, as ideias
almejadas a todo instante, procuradas como se busca inteiramente um tesouro por
demais precioso. O objetivo é, conforme está explícito, o discernimento do
oculto, vasculhar o escondido, avistar novos horizontes. E que venham
abundantes, em cascata para nos deixar, a um só tempo, atônitos e encantados,
sorridentes, felizes, também ansiosos por muitas ideias, todos os dias, na vida
de cada um dos senhores formandos.
Finalizando,
quero lembrá-los de que essa vida, pela qual somos os responsáveis, não nos é
dada feita, prontinha como um programa de televisão, que podemos apreciar, sem
muito esforço pessoal, confortavelmente numa poltrona... Grande parte dela
começa a partir de hoje, com a formatura de cada um dos senhores.
Que Deus abençoe a todos. Boa
noite...
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