Olivaldo Júnior
Era um jovem que sonhava em ter amigos e viver a vida que todos tinham. Não conseguia ter mais que o sonho de ser igual a todos que ele via pelas ruas, pelas casas, nas calçadas, em que ele mesmo era inóspito. Estrangeiro não é só ser de outra pátria em terra estranha, mas ser estranho em própria terra. A terra era a casa em que Deus o pusera. Deus era o maior poeta que ele conhecia. Soube o que era poeta, na escola em que tentava estudar. Digo tentava, porque ele fazia os seus próprios conceitos de tudo o que via e que havia no mundo. Nada era aceitável sem que assim o fizesse. - Oh, rapaz!
Aquele homem, como todos os outros, levava um coração que vivia contando o tempo no peito, onde guardava o mágico sentimento do mundo. Mas coração, principalmente o daquele jovem, era coisa frágil, bem fácil à quebra. Um dia, honrando a quadrilha que gira em sentido oposto ao que se quer, deixou cair seus olhos no abismo insólito de outro alguém e... zás! Era uma vez a rosa do povo, o coração de um ser poético! Tristeza, mágoa e rancor, pois nem mesmo as sete faces de um texto podem dar conta de expressar o rosto de um rapaz ao chão. A chama de um verso calhava no peito que o fazia sentir. A pedra no meio do caminho estava lá. Lançou-a no rio da infância, mas ela nem tchum, e, ao tchibum!, tratou de voltar à tona e, num passe de mágica, pôs-se no meio do caminho de um homem, como todos os outros, exposto ao impossível ter. Ter é trazer nas mãos as mãos daqueles que se amam. Amar de longe é sonhar. Amava.
O jovem, por ter quebrado o coração, ficou sem tique-taque marcando o ritmo no peito inerte. Deu para a escrita, contando o passo dos sons da vida. Poesia é assim mesmo, sublima, sublinha, subterfoge pelas rimas, sem os rumos que amarram. Marca de estilo. Assim que viu a pedra, ele, que já não tinha coração, tratou de pegá-la logo, pois não era tão grande como se pensa. Num ingênuo pedrisco, pode-se arranhar e maltratar os pés. Pesa, pesa mais que a mão de uma criança esta pedra, este mundo, ó Drummond! Ele, o rapaz de nossa história, bem sabia disso que escrevo. Foi assim que, com a pedra nas mãos, tratou de ferir o dedo indicador num dos espinhos de uma rosa aberta no quintal da mãe. O sangue, a essência rubra de uma vida em xeque, tocou e penetrou na pedra que, no meio do caminho daquele jovem, só tivera feito cinza o mundo em cores. Corada, vermelha pelo sangue azul de um escritor de estirpe, a pedra foi sorvida, engolida pelo pobre rapaz que fazia versos. Versos são restos de vida em reciclagem. A mesma que o jovem fazia da vida, sempre insossa quando fora de estrofes. Viva as metáforas! Não, não fora deglutida a pedra em rubro que ele a um canto engoliu. Quando dentro, tomou seu rumo, ficou no peito, drummondiana, em paz.
Nenhum comentário:
Postar um comentário