Maria Helena Vieira Aguiar Corazza
Cadeira n° 3 - Patrono: Luiz de Queiroz
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Apesar de escondida
num canto qualquer da vida, havia ali sem duvida nenhuma, um soluço reprimido e
uma solidão doída que gritava baixinho e, talvez por isso não conseguisse ser
ouvida.
No entanto, num lindo
dia, mais precisamente um fim de tarde do ultimo dia de um quente janeiro houve
um grito para chamar a atenção de alguém do outro lado da rua. Alguém que
requisitava um encontro profissional, já que essa parecia ser a intenção de um
ente solitário a procura quem sabe, de uma orientação, ou apenas um olhar
dirigido ou um ombro amigo cujos braços pudessem agasalhar aquela solidão
sofrida, que já se fazia aparecer para enfraquecer e atormentar.
Encontro marcado,
medo de chegar o momento... Novo encontro, confusão dela para explicar o que
queria, e a inquietude do interlocutor que apenas ouvia... Após, doçura em suas
palavras e uma interrogação no seu olhar penetrante que, ela soube depois
ambicionava beijar sua boca ou tomá-la nos braços, talvez para sempre...
Encontro de “almas gêmeas” desse “amor na tarde” que nenhum dos dois soube até
hoje explicar.
Aconteceu a primeira
caminhada juntos, cuja surpresa ao final foi um longo beijo inesperado e não
premeditado que até hoje, não há como saber quem tomou a iniciativa nesta linda
história de amor: se ele que estaria se apaixonando por ela, ou ela que, de
alguma forma, não entendia ainda aquela necessidade de vê-lo, encontrá-lo e
estar enfim com ele para abrir o coração, encontrar um apoio, um amigo, ou
querer ser amada de novo... Ela não sabia explicar... Ele queria saber...
Importou o beijo colado e demorado, que aconteceu revestido já de grande
estremecimento, ternura e sentimento. Foram duas bocas que se encontraram numa
magia e doçura inexplicáveis.
Logo depois, quando
uma linda lua cheia apareceu no céu houve o primeiro encontro, agora, já de
namorados. Pedro não mais resistiu e tomou-a em um abraço louco de expectativa
e emoção incontrolável! Os braços que a seguravam eram fortes e as palavras
sussurradas eram belas, suaves e apaixonadas, ansiosas, o que fez Marília
perceber e sorrir: naquele momento ela esquecera completamente da lua que era
linda e cheia, pois apenas seus olhos se encontraram e não mais queriam deixar
de se olhar...
Havia acontecido um
amor verdadeiro que não teria mais condição de permanecer ignorado.... Havia
despertado naquele instante, um “amor adormecido”... E, um “novo amor” havia
começado ali... Um “amor na tarde” de dois seres maduros, cabelos já prateados
pelo tempo, caminhantes antigos das agruras da vida e conhecedores de tantas
dores, perdas irreparáveis e penas tão dolorosas, mas que não caberiam jamais
nos sonhos dos mais jovens e inexperientes... Um “amor forte e grandioso”,
porém, como seus próprios protagonistas não imaginavam poder conhecer, nem
muito menos sentir e usufruir. Um “amor perfeito” poder-se-ia concluir, ou uma
“obra prima” como defenderia Padre Charbonneau em um de seus belos trabalhos
numa de suas frases profetizadas a fim de enfatizar o valor incomensurável
desse sentimento, onde nada mais caberia a não ser uma miraculosa perfeição.
E assim, de mãos
dadas em suas vidas, dois seres apaixonados vão caminhando em busca do sol de
cada dia, valorizando cada respirar e cada passo, olhos, ouvidos e palavras que
se tornam encantadas na colheita do “amanhecer e do anoitecer”, na certeza de
que, somente aquele que muito amou e foi amado, poderia conhecer um “grande
amor novamente”. Sobretudo agora para eles, quando a “tarde” da vida, lhes dá a
certeza da grandiosidade do milagre de mais um dia juntos, ao encontro do
paraíso perfeito.
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