Toshio Icizuca Patrono: Elias de Melo Ayres Cadeira no 38 |
Outro dia, ao ver uma pessoa comer de marmita, em
vasilhas feitas de alumínio em formato retangular, os leitores não imaginam o
que é que fui lembrar: fatos da minha infância em Londrina, na década de
quarenta, quando morava no sítio e ajudava os meus pais no trabalho de campo.
Naquela época meus pais eram agricultores em pequena
propriedade, a primeira adquirida por
eles depois de cumprir o contrato como colonos na região de Penápolis, no
Estado de São Paulo. Na verdade, quando eles compraram era uma mata virgem,
pois Londrina nem existia, no local havia um povoado que seria a futura cidade.
Ao ver aquela marmita, lembrei que todos os
trabalhadores do campo, que seriam os boias-frias de hoje, levavam os almoços
nas marmitas iguais a que vi, e ao chegar a hora da refeição, sentavam-se em
qualquer canto, no troco de uma arvore caída, no monte de terra resultante de
arruação, ou em sacos de algum produto colhido, como café, arroz, feijão etc..
A nossa família também almoçava no campo, ou na roça
como era chamada. Mas, o almoço não vinha em marmitas separadas, a minha mãe
trazia todas as tralhas necessárias e a comida dentro de panelas e travessas.
Como ela conseguia trazer tudo aquilo nas mãos não tenho a menor ideia, pois
quando ela nos chamava para o almoço, todos os pratos, talheres, canecas, e as
comidas estavam sobre enorme lençol
estendida no solo. Olha, carregar o almoço para cinco pessoas e caminhar cerca
de quatrocentos metros não é brincadeira, precisava ser uma supermulher! Ela
foi uma heroína. Aliás, todas as imigrantes foram, visto esse tipo de trabalho
recaia sobre os ombros das donas de casa. Ah..., preciso falar que almoçar
sentado no chão em volta da toalha era gostoso, familiar e bucólico.
O fato estranho é que, tudo que eu falei sobre o
trabalho da minha mãe fui lembrar justo na hora que vi a pessoa comendo de marmita...
Talvez naquela época de imenso sacrifício para todos, achasse que tudo que a
minha mãe fazia era normal. Somente agora, depois de passados mais de sessenta
anos, e sem a presença dela e nem do meu pai, pude reconhecer e agradecer o que
eles fizeram para os seus filhos.
Toda vez que lembro fatos dessa natureza meus olhos
não resistem, enchem-se de lágrimas de agradecimento aos meus pais.
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