Marisa F. Bueloni Cadeira no 32 - Patrono: Thales Castanho de Andrade |
Bom dia! Caro leitor, estarei aqui às terças-feiras e meu esforço supremo será sempre encantar o seu coração. Portanto, quero perguntar o que é que você prefere encontrar aqui? Barack Obama, as enchentes pelo mundo, a crise do euro, o mensalão, as propriedades curativas da saliva do carrapato, ou uma crônica onde declaro meu amor por você?
Eu gosto de você. Porque você existe, está aí do outro lado e me lê. Ma-ra-vi-lha! E ainda manda uma mensagem para mim. Quando escrevo, penso em você, leitor. Não fique triste, leitora: convencionou-se usar o gênero masculino, para designar ambos os sexos. Você dirá que é um machismo jornalístico-literário? Concordo. E vamos pra briga.
Eu gosto das pessoas e não tenho medo de declarar meu amor por elas. De falar do meu amor para elas. Tipo assim: “Eu tenho tanto pra lhe falar/ mas com palavras não sei dizer/ como é grande o meu amor por você...”. Todo mundo sabe a música de cor, todo brasileiro conhece esta canção maravilhosa. Sou apaixonada pelo rei Roberto e se um dia estiver frente a frente com ele, digo sem hesitar: “Eu gosto de você, bicho”.
Quase não dizemos ao outro “eu gosto de você”, reparou? Vamos declarar nosso amor quando? À beira do caixão? Uma vez, num velório, vi uma cena tocante. O sogro passava a mão nos cabelos do genro morto e conversava com ele. Não parava de falar. “Eu deixei de fazer alguma coisa por você, hein?”. E o morto, ali, mortinho, sem poder responder.
Alguém ia lá, tirava o sogro de perto do caixão, mas logo ele voltava. “Diga, o que foi que aconteceu? Eu posso fazer alguma coisa?”. E passava suavemente a mão na testa do morto. Era de cortar o coração. Presenciei isso e jamais me esqueci. Nunca soube o que possa ter havido entre os dois, mas, provavelmente, faltou um pedido de perdão, talvez alguma pendência bem dura, destas que, às vezes, nos mata de dor e arrependimento...
Num dia dos pais, um amigo querido me escreveu este e-mail: “Quando meu pai morreu chorei uma semana. Com certeza, foi por arrependimento por não ter ficado mais tempo com ele, conversado mais com ele, abraçado-o mais, por não não ter tido a sensibilidade de lhe dar uma furadeira elétrica que tanto iria gostar. Vivia consertando coisas, e usava aquele velho arco de pua, com broca ruim, encostado no peito para fazer força. Por que não lhe dei uma serra elétrica manual, em vez daquele serrote enorme, que ele vivia afiando. Que m...! Um abraço".
Eu gosto de você, meu amigo, por este e-mail tardio para o seu pai. Eu gosto de você. Diga para alguém, mesmo que o outro fique com cara de “sinhá Mariquinha, cadê o padre?”. Sim, porque isso assusta. Além de dizermos pouco que gostamos, quase não abraçamos as pessoas. Reparou? Tem pai que não consegue abraçar o filho e vice-versa. Membros da mesma família que jamais trocaram um único abraço. Irmão passa longe de irmão. Tem gente engessada, paralisada, não sabe abraçar. Não pode, tem de abraçar. Tem de tocar.
O toque é mágico, é maravilhoso. O toque é divino. Tocar alguém com amor cria faíscas de luz num campo invisível e tudo pode acontecer ali. Tocar o outro abala os desertos, move os oceanos, muda o curso da história. Impor as mãos com fé sobre um doente pode curá-lo. Há pessoas ungidas que fazem isso e têm o poder de curar.
Eu sei dizer “eu gosto de você”. Ah, sim, eu digo. Derreto-me pelos meus amados e pelas pessoas que estimo. Não tenho vergonha. Eu digo: Você é uma pessoa admirável. Digo às minhas duas filhas: Vocês são muito inteligentes, me dão orgulho. Escrevo para alguém especial: Você é um doce de coco, cara. Ou então: Você é uma flor de maracujá, linda. E também: Você é um pote de mel, fofa. Nós todos precisamos expressar nossos sentimentos. A vida precisa deste carinho, desta gentileza. Precisa de atitudes amorosas e delicadas, para amenizar a dor geral, a aspereza das coisas, a aridez destes dias trágicos, as decepções do nosso coração...
Eu gosto de você. Diga isso a quem merece ouvir. Vá treinando. Mãe, sua comida é uma delícia! Você é uma filha muito talentosa e está se saindo muito bem no lugar do seu pai. Gosto de você, minha irmã querida, obrigada pela chave da sua casa, para eu ficar lá quando precisar. Eu gosto de você, cunhado, você é uma grande alma. Diga também para os seus amados, olhando nos olhos. Abrace-os, oh, abrace-os muito forte e apertado. Não espere pelo Natal. Ou pelo aniversário. Abrace em qualquer época do ano.
Eu gosto de você: veja, é tão simples. Não arranca pedaço. Nem de você, nem do outro. É uma doçura ouvir. É uma bênção dizer. É uma carícia de que nossas almas necessitam o tempo todo. Uma vez, vi na tevê uma cena no fundo do mar. Um mergulhador fazia carinho num tubarão e o bicho como que se mostrava dengoso para ele. Dava uma volta e retornava, parava a cabeça perto do homem, esperando ser acariciado. Ora, se um tubarão gosta de carinho, imagine um ser humano.
Eu já vou terminar esta crônica, meu caro leitor. Mas não sem antes dizer que eu gosto muito, muito, muito de você. Até a próxima terça!
*Marisa Filetti Bueloni escreve às terças-feiras no Jornal de Piracicaba
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