Marisa F. Bueloni Cadeira no 32 - Patrono: Thales Castanho de Andrade |
Estou atendendo ao pedido de um amigo, que adora ler “as coisas de antigamente”. Ia começar este título com “Éramos seis”. Ainda somos seis irmãos, todos vivos, na graça de Deus. Todos já passamos de meio século e cada um já viveu sua parte de alegria e de dor nesta vida. Somos seis irmãos e guardamos o legado lindo deixado pelos nossos pais.
Então, “éramos” seis, cinco mulheres e um homem. Minha mãe, impecável na sua função de administrar a casa, reinava como a perfeita rainha do lar, à medida que crescíamos. De manhã cedo, a mesa posta, o cheiro de pão fresco, o leite fervido, o café coado recendia pela casa. Cedinho, meu pai já havia saído para o trabalho e minha mãe começava a lidar com os afazeres domésticos.
De suas mãos brotaram as mais belas refeições de que tenho lembrança. O pernil assado com batatas; o frango com polenta; o nhoque e o bife à milanesa; o bacalhau com molho; a macarronada maravilhosa, tudo feito em casa, com carinho e capricho. E os bolos e doces? Ninguém fazia um doce de abóbora em pedaços igual ao dela.
Mamãe foi do tempo do ferro de passar com brasas e do fogão a lenha. Dignamente rachava a madeira no quintal, acendia o fogo para a comida de cada dia. Ficava com as mãos tão grossas, mas usava um pé de mamão que tínhamos num terreno ao lado de nossa casa e, com um facão, dava um talho no tronco. Dele escorria um leite branco que ela passava nas mãos, pois dizia que amaciava bem a pele.
Sabia destroncar o pescoço do frango, depois o punha numa grande caçarola com água fervendo para amolecer a pele e tirar as penas uma por uma. Aí, cortava a ave em pedaços e a temperava. Para fazer a sua famosa polenta com frango, que nunca existiu igual no mundo!
A roupa lavada e passada pelas mãos da minha mãe tinham um perfume único. Sabia fazer um pouco de tudo, costurava, bordava. Lembro da alegria dela com o primeiro fogão a gás, a geladeira, o telefone, a televisão. Eram presentes maravilhosos para ela! Acho que nunca a ouvi se queixar de nada. Parecia ser imensamente feliz, mesmo com tantos afazeres diários. E a gente só vivia brincando, estudando, passeando, indo ao cinema...
Que tempo maravilhoso foi aquele, minha mãe e minha avó italiana disputando espaço na cozinha, na pia, no fogão, uma mexendo a polenta, outra lavando a louça... Meu pai trazendo carne de porco do sítio e minha mãe lidando com ela, fervendo as tripas, usadas para encher de linguiça caseira. Vinham as laranjas, mangas e goiabas. A goiabada era feita no tacho de cobre. Levávamos pão com goiabada de lanche durante semanas na escola e ninguém enjoava de nada.
Para mim, como já afirmei, a felicidade reside nas coisas simples. Sobretudo quando se tem estas lembranças acesas no coração! Minha avó italiana e sua tigela branca para o café com leite, onde ela molhava o miolo do pão. Meus irmãos e eu, meu pai e minha mãe. Os dois ajoelhados rezando o terço, diante dos quadros lindos dos Sagrados Corações de Jesus e Maria.
Ainda somos seis e, quando nos reunimos, vem o abraço mudo desta felicidade pequenina e as lágrimas de saudades enchem nossos olhos e nossos corações!...
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