Cássio Camilo Almeida de Negri Cadeira n° 20 - Patrono: Benedicto Evangelista da Costa |
O menino nunca estivera em uma ceia
de ano novo.
Naquele ano, porém, o décimo
terceiro de sua vida, fora convidado para participar de uma ceia.
Era ainda inicio do mês de
dezembro e não via a hora da chegada do último dia do ano. Nessa idade da
adolescência, os anos passam tão lentamente, que ele não sabia o que fazer para
os dias se apressarem, a não ser contá-los, riscando-os um a um na folhinha,o
que parecia fazê-los ainda mais demorados.
Já engraxara os sapatos e colocara
em cima da cômoda a roupa do domingo, a espera do grande dia.
Perguntava a si mesmo o porque
de comer à meia-noite, pois nunca na vida fizera isso. Também nunca comera
nozes e talvez fosse a oportunidade de fazê-lo, pois somente as vira no mercado
municipal.
Uma vez, quando tinha nove
anos, encontrara uma no chão.Considerando-a perdida, colocou-a rapidamente no
bolso com a consciência pesada, como se tivesse roubado. Ao chegar em casa
abriu-a e teve uma decepção ao encontrar dentro apenas um carocinho preto.
Mesmo assim, experimentou-o, sentindo um gosto ruim e amargo da fruta
estragada.
Agora, teria a oportunidade de
provar nozes fresquinhas e na quantidade que quisesse.
No grande dia da passagem do
ano, sentado à beira da mesa, observou como todos comiam a fruta seca após uma
martelada certeira .
Foi o que fez. Colocou-a só
sobre a tábua da mesa e ao dar a martelada , a fruta dura voou para longe
caindo dentro do prato das lentilhas. Nova tentativa, após desculpas e
esmagou-a com casca e tudo, tendo que separar as migalhas amassadas da casca
indigesta e assim provar pela primeira vez da semente. Tentou outra e mais
outra vez, até que pegou o jeito da martelada, que soltava as duas porções
certinhas da casca expondo aquele miolo gostoso que achou parecido com um
cérebro em miniatura.
Saboreou-o sentindo seu gosto
real, sem pedaços de casca, nem aquele gosto amargo das membranas duras que
ficam entre as suas reentrâncias.
A velha vizinha que o convidara
para a ceia, vendo o menino se deliciar comenta:
-È tão gostoso porque tirada a
casca, a semente contém toda a árvore em sua essência e irá produzir nova árvore.
O pequeno nunca mais esqueceu a
experiência da noz de ano novo.
Hoje, já velho e com a face
toda sulcada de rugas, como uma casca de noz, espera sem medo, o dia em que
perderá a casca, liberando sua verdadeira essência.
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