Marisa F. Bueloni Cadeira no 32 - Patrono: Thales Castanho de Andrade |
Desejo que você, leitor, encontre o sentido da vida. E me conte onde o achou.
Que me mande um e-mail relatando como foi sensacional tê-lo, finalmente,
descoberto. Como ele é, o sentido. Se ele é alto ou baixo, gordo ou magro,
sisudo ou simpático. Se aparenta ser acolhedor, com respostas na ponta da
língua e se está disposto a nos suportar.
Desejo que o leitor me ensine a escrever o que deseja ler aqui, nesta
terça-feira cheia de esperanças. Sim, meu coração transborda de amor, de
generosidade e bondade quando escrevo. Sou tomada por uma beatitude e pareço
alcançar um estado de graça que, imagino, transpareça nas palavras.
As
palavras. São elas as responsáveis por tudo. São as culpadas de todas as
coisas, as orais, as pensadas e as impressas. São elas as donas de toda
história.
O
que seria de nós sem as palavras? O que seria da vida sem o seu alfabeto digno?
Sim, a vida nasceu de um caldo nutritivo e subiu para a terra. Evolução das
espécies, sobrevivência dos mais fortes, biologicamente. Oh, há quem afirme que
a vida nasceu das palavras. Ou dos números.
Este é o sentido da vida: o que falamos, o que escrevemos, o que projetamos em
diagramas e símbolos, iconografia de um tempo novo. Sem um traço com
significado, não existe vida.
Se
nada digo, nada acontece. O mutismo gera um desconforto antiverbal terrível; um
silêncio de possibilidades; e a falta de comunicação seria trágica. Por isso,
falamos, escrevemos, redigimos, digitamos, mandamos e-mails, elaboramos frases
para as redes sociais, publicamos, jogando para o ar esta fonte inesgotável de
inspiração.
Para que a vida tenha sentido, para que haja um “fiat” em cada vocábulo, é
preciso o cultivo das sentenças, das frases que integram as idéias, mesmo as mais
atrevidas, as exorbitantes e as mais obscuras, as de segundas intenções.
Desejo que o leitor encontre sua palavra. Se me perguntarem qual é a mais bela
do dicionário, diria que é “liberdade”. Perguntei a um amigo, ele disse
“justiça”; a uma amiga querida, “amor”; a um irmão de armas, “fortaleza”.
Olha a força da palavra. Ela tem o poder e construir universos, pontes,
catedrais e pequenas casas para morar. Ela faz transbordar os rios, as lutas e
as almas. Em tudo, vemos a palavra. Mesmo no silêncio absoluto, lá está ela...
O
sentido da vida está na palavra, senhores. Todos já o encontramos. É pela
palavra que digo bom dia, obrigada, por gentileza, com licença, por favor. É
pela palavra que digo “eu gosto de você”, o profundo “eu te amo”, ou “eu espero
o seu abraço”. Se você não pode vir me abraçar, e talvez me curar, ficarei à
espera de uma palavra chamada “abraço”. Talvez baste apenas a concretude
substantiva deste vocábulo que pulsa em toda parte.
O
sentido da vida está nas palavras. No bem que dizemos e que reverbera pelas
montanhas. Ó, as bênçãos que proclamamos, as graças que desejamos, a fé que
distribuímos!
Nada disso teria sentido ou seria possível sem as letras do amor, sem o acento
tônico da inteligência, sem a magia romântica da beleza, sem o brilho da crença
na vida.
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