Acadêmica Myria Machado Botelho Cadeira n° 24 - Patrona: Maria Cecília Machado Bonachella |
O
contraste é muito grande : de um lado, um mundo em pleno progresso material, avançando em suas conquistas
tecnológicas e espaciais e empregando nestas pesquisas bilhões de euros e de
dólares; de outro lado e bem sob nossas
vistas, graças à celeridade da
comunicação global, milhões de imigrantes e refugiados cruzando fronteiras (
quando podem) e fugindo do inferno em que se transformou suas pátrias de
origem. São mais de 51 milhões e nunca
foram tantos, desde a segunda guerra mundial.
O
êxodo é dramático e, para muitos, comovente, dolorido, inaceitável! A imagem do
pequenino sírio Aislam, de três anos, vítima do naufrágio de um barco, e
atirado na praia como adormecido é de arrancar lágrimas de impotência e de
revolta. Onde está o coração dos países
ricos que assiste a esse êxodo
desesperado à procura de um abrigo, em busca de melhores condições de vida,
fugindo do horror dramático das guerras,
dos fundamentalismos, das perseguições e dos exploradores, dos genocídios e das
misérias de toda ordem?
Tenho
comigo uma inquietação talvez mais acentuada com relação à condição humana, `a
sua valorização, aquilo que o ser humano traz em seu coração como participante
da vida livre, no sentido de construir a paz e seu próprio destino no mundo.
Aquela face terrível do”homo homini lupus”se me apresenta como um paradoxo, uma
contradição, uma deformação de tudo aquilo que o Criador, em Sua infinita
sabedoria deseja para nós, embora nos
tenha legado o livre arbítrio, a decisão só nossa em todas as opções. Nisto,
sim, sou inconformada. Preocupo-me com os rumos da sociedade moderna,
imediatista, que vem colocando em primeiro lugar e como norma de vida, o
relativismo absoluto que esconde enormes carências, a de Deus, sobretudo. E
nunca, penso eu, a humanidade se viu tão ameaçada e infeliz, às voltas com
problemáticas tão agudas, como a de agora.
Os conflitos, os condicionamentos, a
massificação, a mediocridade e o desinteresse por objetivos mais elevados; uma
certa arrogância irresponsável quanto ao dever tão necessário de observar e respeitar os valores que dão sentido à vida,
numa forma de rebaixamento e de cinismo; o
desrespeito à vida numa intenção insana de destruí-la em todas as suas
formas,manifestado contra a criança nas etapas de seu desenvolvimento, a partir
da concepção, no menosprezo e no preconceito contra os mais velhos, na
destruição da natureza, tudo indica um retrocesso de condição, extremamente
preocupante. Em ponto menor, relativo ao dever pessoal de cada um fazer a sua
parte, as guerras cruéis e genocidas de países e nações não expressam somente o
sentimento dos governos beligerantes,elas exprimem a guerra interior dos
próprios indivíduos, desprovidos de princípios, de aspirações e de esperanças. No fundo, no fundo, são pessoas infelizes,
incapazes de amar. Uma incapacidade que se torna aberração. A caridade,
expressa notavelmente pelo Apóstolo, na 1ª Carta aos Coríntios,cap.13, nos diz
respeito. Quem sabe amar é feliz, experimenta a paz de consciência, aquela paz
que não é a deste mundo, prometida por Jesus.
O problema de
assistência aos refugiados está cada vez mais sob a responsabilidade de países
com poucos recursos que abrigam 86% dos emigrantes, enquanto os países ricos
atendem apenas 14%. Após o ataque
terrorista de 11 de setembro nos Estados Unidos foram adotadas regras mais
rígidas para a aceitação de refugiados.
Apesar disso, a
queda na taxa desta recepção nos países ricos não implicou na redução de
vítimas de conflitos ao redor do mundo, cujo número aumentou e passou a ser
maior a procura de abrigo nos países em desenvolvimento. Este aumento se deve à
multiplicação e ao agravamento de conflitos armados pelo mundo, além do
fechamento de fronteiras por países que estão na região de conflito.O
endurecimento das leis e políticas migratórias em países desenvolvidos também
elevou o número de pessoas em busca de um novo país como opção.
De qualquer
forma e no fundo, no fundo, o que existe
aí é um esfriamento , uma crise
humanitária de governos e dirigentes no sentido de que o ser humano precisa ser
acolhido em qualquer lugar do mundo. É um direito que lhe cabe, o da inclusão,
o da acolhida, da solidariedade e da ajuda.
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