Antonio Carlos Fusatto
Cadeira n° 6 - Patrono: Nélio Ferraz de Arruda
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A chuva fina tamborilava no capô do carro, que rodava calmamente pela
estrada escura e sinuosa, a seu lado ela falava, ora assuntos amenos, ora
coisas interessantes, as quais, nas entrelinhas ele também fazia alguns
comentários, muito embora seus pensamentos vagassem, criando uma miscelânia de
fantasias.
Mas, cada vez que ele a olhava, tinha vontade de gritar ao mundo tudo
que por ela sentia; várias vezes mordeu os lábios para não dizer-lhe: te amo!
Quando se despediram, não pode conter o desejo de saciar sua sede
naqueles lábios, mas que decepção!..., não fora um ladrão astuto e corajoso o
suficiente, para roubar-lhe o beijo tão desejado, afinal seria apenas um beijo!
A porta foi fechada, logo, ele estava completamente só.
– Ele e a chuva;
– Ambos e a solidão.
– Não pensar em nada, esquecer de tudo... fugir de tudo... mas como? Se
uma dor sinestésica dilacera-lhe a alma?
– Ah!... não queria desejar esse amor, afinal tudo estava tão bem...,
gemeu como um animal ferido; solteiro, uma vida livre, por quê? logo eu?
pensava, e justamente ela?...
– Frente a frente com estas lembranças, sorri debilmente e volta a
pensar...
– Pensar novamente na noite passada, outra noite, na mesma hora, quando
a viu pela vez primeira, namorando com seu amigo, quando descobriu que os
sentimentos por ela já não eram mais uma simples amizade.
Agora, na quietude escura do seu quarto, que as luzes da noite maculam
com sua claridade, está só. Lá fora, além da janela, o vento sopra e a chuva
continua...
– E ele pensa.
– Como sempre, pensa nela, sente a fragrância do perfume que ela usava.
– Já não quer esquecê-la, ama-a perdidamente, cada vez mais, a cada
momento quer estar a seu lado, como se fosse o único. Mas... a realidade é
outra; e as últimas luzes se apagam na avenida, pois amanhece, para tudo outra
vez...
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