Literatura infantil
Ivana Maria França de Negri
Foi-se o tempo das histórias da
carochinha e dos contos de fadas que começavam com “Era uma vez” e
invariavelmente terminavam com o célebre “...e foram felizes para sempre!”.
Os
conceitos de literatura infantil mudaram bastante nas últimas décadas. Só tenho
minhas dúvidas se as mudanças foram para melhor. O que mudou foi a
apresentação, ilustrações magníficas e coloridas, imagens computadorizadas que
chamam a atenção. Mas isso não deve ser levado em conta na hora de adotar um
livro e sim seu conteúdo, as mensagens que traz e como desperta a criatividade
na criança.
Estimular
o hábito da leitura, desde tenra idade, é fundamental para formar adultos
capacitados para discernir e terem sua própria opinião.
Fiz
uma leitura crítica de dezenas de livros didáticos infantis adotados por
escolas e fiquei espantada com o conteúdo deles. Salvos raras exceções, mesmo com ilustrações
belíssimas, a maioria não traz mensagem alguma, reúne um monte de baboseiras e
futilidades que nada acrescentam ao intelecto em formação das crianças. Fiquei
pensando em como seria feita a seleção, quem faz as escolhas, e quais os
critérios para aprovação dos livros didáticos.
Vou
comentar o enredo de alguns para exemplificar.
Um deles, tragicômico, narra a saga de um avô que comeu demais e, do
começo ao fim, gira em torno da sua ida ao banheiro. Uma bobagem só. Noutro, a
avó é chamada de velha coroca, e seu neto é um menino que desobedece a mãe e
por isso mesmo se dá bem, um incentivo ao desrespeito à autoridade dos pais. O
avô, ao invés de ser um sábio que passa aos netos suas experiências de vida, é
um abobalhado, e a avó, em vez de ser como era a Dona Benta do Sítio do
Pica-Pau Amarelo, aquela que conta histórias, faz bolos, e dá muito amor aos
netinhos, é uma pessoa doentia e ausente.
Outros
me deixaram pasma frente ao seu conteúdo que incita à violência, a
desobediência às normas, sem falar nos que contém forte apelo sexual que não
deve ser despertado antes da hora. As crianças nessa faixa etária gostam de
aventuras, amizade, natureza, animais, e só mais tarde é que começam a
despertar para a sexualidade. Num deles a Chapeuzinho Vermelho usa meias de
seda e salto alto para seduzir o lobo, algo completamente dispensável para
crianças pequenas.
Outros
ainda, trazem noções de perversidade, de
como ser arruaceiro e baderneiro, e o conceito de família, a base sólida que
deveria ser incentivada, é ridicularizado.
Uma
das obras falava sobre um seqüestro, numa trama aterradora. O mundo já
apresenta violência demais, não é preciso povoar o imaginário infantil com mais
violência. Crianças têm o direito de sonhar coisas bonitas e fantasiar à
vontade.
Em
outro desses livrinhos, todos adotados por escolas, e editados por editoras
famosas, o protagonista corre feito louco numa moto (mau exemplo), causa
tumulto depredando ônibus e virando carros. Literatura infantil não precisa
retratar essa realidade cruel das ruas, pois só vai reforçar comportamentos
negativos.
E,
para culminar, um livro de poesias para crianças, já adotado nas salas de aulas
de alunos na faixa entre oito e nove
anos, foi vetado por conter frases como “nunca ame ninguém, estupre”, e outra,
“seja efeminado, isso funciona com estilistas”. Será que ninguém viu antes?
Nenhum professor leu antes? Precisou que os pais de alguns alunos, indignados,
denunciassem para que se tomassem providências.
Tudo
isso é muito preocupante. O assunto é sério e precisa de atenção das
autoridades competentes, afinal, são crianças em fase de formação que
necessitam ser melhor orientadas para a vida. Escolas devem adotar livros cujos
conteúdos reforcem valores morais e éticos, falem de ecologia, preguem o valor
do núcleo familiar, transformando as crianças e adolescentes em adultos
melhores para melhorarem o mundo.
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