Marisa F. Bueloni Cadeira no 32 - Patrono: Thales Castanho de Andrade |
Por alguns momentos, a vida exige a parada necessária. Estrelas conspiram à vista de um noivo cíclico que fecunda os céus com seu brilho de cometa. Paro para procurar na noite o astro luminoso. Paro para rezar o Pai-Nosso e a Ave-Maria. Quantas vezes paramos para ouvir nosso próprio coração?
Paramos para descansar nossas costas depois de um trabalho estafante, detemo-nos nas subidas mais íngremes. E as paradas forçadas, o repouso por recomendação médica? Ninguém gosta de observá-los, sobretudo quando se é dinâmico, com muitos sonhos fervilhando na alma. Pedimos ao corpo para estar de pé todos os dias, selamos um pacto com o Criador e fazemos a nossa parte, religiosamente, esperando que Ele cumpra a Sua.
Às vezes, vamos até a porta para receber a graça que não veio e também para agradecer a que chegou sem que esperássemos. Não queiramos jamais decifrar os desígnios divinos. São caminhos muito diferentes dos nossos e haveremos de aceitar tais situações, pois Deus trabalha com o conhecimento pleno de nossas vidas. Sem passado ou futuro, num eterno presente.
Aqui e ali, paramos. Para acolher a manhã que desponta suave, prenunciando tons invernais. Ela vem carregada de bons frutos, outono de graças. A abundância e a riqueza da vida nos obrigam a parar. Louvor à glória de toda coisa criada sobre a Terra, à beleza das noites estreladas, dos rios e mares, da natureza e dos bichos, do trabalho e do pão.
Parar para comer um pedaço de pão. Eu paro. Não perco, por nada, este “agora” abençoado. O pão que mata a nossa fome acaba, mas há o outro Pão, aquele que alimenta, dá vida e nos ensina a amar. Amar e perdoar. Não se conhece atitude mais bela, mais generosa e mais humana.
Parar para a contemplação pura e simples, deixando-se tocar pelo invisível aos olhos, profetizando em silêncio, e guardando para si o que o espírito captou nas paradas concedidas às almas que buscam a Deus sem cessar.
Há o momento certo da paragem, creio eu, para a profunda reflexão. Não podemos nos entregar ao turbilhão que se alastra à nossa volta, sem raciocinar sobre o que está acontecendo de momento a momento. Tudo é importante, tudo tem seu peso e seu valor. Um pensamento, um abraço, um gesto decidido, o desfecho do que pôde ser bem realizado. Tudo está na tela eterna do universo.
Nas muitas esquinas e cruzamentos do nosso coração há faróis apontando o caminho. Um deles está sempre na cor verde, a passagem é livre, o acesso é de graça. Talvez seja necessário pagar um pedágio que é refletir profundamente para seguir adiante.
Prosseguir ou parar. Eis a questão. Até onde posso ir, quando há sinais avisando o perigo à frente? De onde virá a sabedoria mais bela para o devido discernimento? Se a ousadia da coragem pode nos oferecer o céu na terra, é decisão nossa continuar, mesmo sabendo dos riscos.
Que saibamos compreender a gênese desta pausa que cura e salva. Este momento abençoado de erguer nossos olhos para o alto e receber o entendimento pleno da vida.
No momento, estou parada, esperando o amor!...
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