(Foto cartão postal- fonte Google) |
Leda Coletti
Por volta de
1920, meus pais contavam que Piracicaba tinha uma população aproximada de 20 a 30 000 habitantes. A zona rural era então
bastante povoada. Os meios de transporte mais usados por seus moradores eram o
carrinho e a charrete. Só depois de 1929 é que surgiram os primeiros carros.
Havia um intercâmbio grande entre campo e cidade, principalmente nas festas
religiosas.
Por volta de
1947, moradora que era de sitio próximo participei de uma delas. Foi uma
procissão na Vila Rezende. Eu, e outras meninas vestidas de anjos, ficamos
sentadas ao redor da imagem da Imaculada Conceição, na carroceria de um
caminhão. Os homens nos seus ternos domingueiros acompanhavam a pé, separados
das mulheres e crianças. Muitos eram congregados marianos e como as filhas de
Maria, jovens solteiras trajando
vestidos brancos, usavam a fita azul no pescoço. Outros adultos tinham as fitas
vermelhas, lembrando o Sagrado Coração de Jesus. As crianças que eram cruzadas
eucarísticas ostentavam uma fita amarela, com cruz azul, colocada
transversamente nos ombros, Geralmente na parte final vinha a banda, com os
músicos uniformizados e tocando músicas sacras.
Anos após, já
morando na cidade, participava das cerimônias da Igreja dos Frades. Gostava de
ver os Franciscanos leigos, - homens e mulheres-, usando túnicas tecidas de
algodão na cor marrom, amarradas por um cordão (semelhantes aos frades
capuchinhos). Nessa metade do século
passado, as senhoras, jovens e crianças cobriam a cabeça com uma mantilha para
receber a Santa Hóstia. As solteiras, com a cor branca e as casadas, preta ou
cinza. Já os homens tinham a cabeça descoberta.
Igualmente as
festas de casamento, eram acontecimentos esperados por todos. Após a festa, os
mais abonados ofereciam almoço nos restaurantes. Macarronada, bife e salada formavam
o cardápio. À noite armava-se um palizado para o arrasta-pé (quando era no
sitio) e punha-se palha de arroz no chão batido, para não levantar muito pó. Os
músicos eram da redondeza, geralmente da zona rural. Era raro acontecer viagem
de núpcias e, se acontecesse os lugares escolhidos eram São Bom Jesus de
Pirapora, São Paulo e Santos. Mais tarde, (da metade do século em diante),
Poços de Caldas, o Circuito das Águas de Lindóia, Serra-Negra e Campos do
Jordão entraram no roteiro dos recém-casados.
Eram outros
tempos e também outra era a vida que levavam os piracicabanos do século passado.
O que para nós foram bons tempos, certamente para os habitantes jovens do
século XXI, são vistos sob outra ótica. Talvez na virada do novo século muitos
dos adolescentes e crianças de agora, ao contarem trechos de suas vidas atuais,
serão considerados estranhos pelos do século XXII. É o preço do progresso,
evolução, que vêm confirmar as mudanças sociais, culturais, ocorridas entre as diferentes
gerações.
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