A
HISTÓRIA
Carmelina de Toledo Piza
Apareceu
por aqui. Qual seu nome? Onde mora? O que faz? Veio de onde?
Nada
sei sobre a mulher roliça, alegre, de sorriso solto e olhos verdes rasgados. Ri
gostosamente e cantarola uma canção que ninguém entende.
Sempre
no mesmo horário desce todas as manhãs a rua onde moro. Pode acertar um relógio
ou esperar pelo ônibus com sua pontualidade.
Aprendi a hora com o sol e com a lua, diz ela.
Desenho,
recorto e visto você em cores, mulher. Estou perdida nas minhas divagações.
As
velhas carolas e beatas sentem medo dela. Dizem que ela tem parte com “o coisa
ruim”. As crianças a adoram. Correm ao seu lado e tentam aprender a canção. É
difícil. Não entendem. Mas acompanham nas palmas das mãos e no sapatear dos
pés.
Chamam-na
de – A HISTÓRIA.
Olho para você... sei que estará ao meu lado nos momentos difíceis.
Mesmo
quando ouço os ribombos fortes dos trovões assustadores.
Ela
vive em um mundo de mistérios. Sem mestres, sem perguntas ou respostas. É uma
incógnita, uma surpresa, o mundo é dela. A vida, vivida e atrevida de uma
mulher, que talvez tenha nascido sob a pressão de um destino monótono e estéril
que ela não quer ver e sentir. De momentos ridículos cheios de vulgaridades que
ela esnoba e desaprova no seu mundo de ilusões e delicias.
Sinto
você
...
ao meu lado nos melhores e piores momentos.
Com
seu jeito de andar, sua elegância, suas pausas e seus movimentos. Talvez pelos
seus olhos rasgados e verdes observando tudo. As mãos ágeis balançam e
gesticulam como folhas das árvores ao vento. Unhas de gavião, sempre pintadas
de vermelho. As roupas são coloridas, justas, marcam as formas roliças. Cores
berrantes: amarelo e roxo; preto, vermelho e verde; azul e laranja.
Você
faz parte da minha vida, da menina que fui um dia.
Você
tem história. Aprendeu em algum lugar, em algum ponto qualquer do universo que
guardou na lembrança.
Busco
você
...
para permanecer ao meu lado na labuta da vida,
...
preciso da sua companhia,
...
aguardo ansiosa as suas falas, suas risadas, seu olhar e o cantarolar das
canções que nunca entendi e jamais esqueci.
Você
continua descendo a rua todos os dias rindo e cantarolando, mas à tarde já não
sobe a rua tão só. Alguém segura a sua mão.
Descobri
o quanto você é importante para mim. Deito-me à sombra da árvore frondosa da
mesma floresta da infância que nos uniu nas memórias das velhas histórias.
HÁ UMA MULHER EM
MIM
Sady Carnot
Claro que há uma mulher em mim, que
me faz ser o homem que sou.
Dentro de mim, existe a
ancestralidade de minhas tataravós, bisavós, avós, tias, madrinha, minha mãe,
minha esposa, minha Anima. Erros e acertos me foram ensinados, risos e lagrimas
me foram mostrados.
Há em mim a Mãe Terra e todas as
deusas do panteão grego, romano, africano, além de Maria e Madalena. Como não
ter o feminino dentro de mim?
Como poderia ser um homem, seu meu
oposto, neste planeta em que tudo é dual, como poderia ser individual?
Celebro essas mulheres, não só no
Dia Internacional delas, mas todos dias enquanto respiro, pois foi graças a
ela, que posso estar escrevendo isto.
Ah! Minha mãe, que saudade me dá, de
cada carinho, cada encostar minha cabeça em seu peito, de cada bronca, de cada
sorriso terno.
Quando chorei de fome pela primeira
vez, você me saciou e neste momento me ensinou a ter fé de que poderia esperar
pelo próximo saciar, vindo de você e de Deus. Como
entender o Filho, sem Maria, a Grande Mãe Divina. Gratidão às mulheres que
existem em mim.
Joia dos
meus sonhos
Leda Coletti
Joia dos meus sonhos !... Deixo escapar em voz alta minha admiração e a musa me sorri tão bonita!! Como que embalada pelas palavras acariciantes, desliza nas águas de um caudaloso rio suavemente. Parece mesmo sumir numa densa névoa de esplendor. Vou ao seu encalço mas, ela num rodopio gostoso, desaparece nas águas claras e profundas.
Fico estático, olhando fixamente para o
ponto onde sumiu. Sua impressão deveras forte continua a ocupar o espaço a
minha frente. Acompanho sua trajetória até o fundo do rio, e consigo enxergá-la
na paisagem embaçada, recostada ás outras companheiras. Seu colorido se
sobressai sobre as de diferentes matizes, lembrando ouro, esmeraldas. Nelas se
recosta tranquila e soberana. No silêncio
se impõe
Sou mesmo um felizardo, pois vou ao seu encontro e candidato-me a embalar
seu sono repousante e velar pela sua proteção. Construo para ela um nicho
incrustado de diamantes, safiras, ouro. Nada quero em troca. Só o puro prazer
do êxtase.
E, nessa magia de deslumbramento, acordo sobressaltado, com o tilintar de algo próximo a mim. O despertador era, pois eu conhecia muito bem o seu som estridente e mais demorado.
Procurei o objeto do barulho, causador
da interrupção do sonho inesquecível.
Qual não foi minha surpresa ao constatar que se tratava da aliança de ouro de minha mulher, que a deixara no criado-mudo. Acredito que devo tê-la derrubado ao solo com o meu braço direito, ávido em tocar a musa dos meus sonhos. Apanhando-a, observei sua parte interna, onde estava meu nome gravado. Olhei enternecido para a mãe dos meus dois filhos que dormia sossegada, e sussurrei-lhe ao ouvido: -“mulher, você é joia mais linda que possuo na vida ! “.
MULHER
Ludovico da Silva
Alguém
já deve ter visto uma caricatura em que uma mulher é arrastada pelos cabelos
por um brutamontes, em direção a uma caverna.
Era assim que a mulher era tratada. Como
uma verdadeira escrava.
O homem era o seu dono e podia dispor dela como que quisesse e bem
entendesse.
Esse tempo já passou.
Hoje, a mulher se situa,
merecidamente, em igualdade de condições com o homem.
Essa posição não foi alcançada ao
sabor da luz do sol ou da mudança da lua.
É preciso um recuo até a década de 50 do
século XIX, quando mais de uma centena de mulheres de uma indústria têxtil, da
cidade norte-americana de Nova Iorque, entrou em greve, por melhores condições
de vida. Pagaram com suas próprias vidas, mas seus gritos ecoaram pelos anos
futuros e pelo mundo afora.
Essas mulheres fizeram história e
hoje merecem ser reverenciadas pelo que conquistaram.
Aos poucos, foram alcançando vitórias,
quebraram tabus, garantiram direitos e continuam desafiando e reivindicando
sempre posições legítimas, na sociedade como um todo.
E tem mais. Tudo isso, sem se afastar da sagrada missão materna.
NEGRA
VELHA
Cássio Camilo Almeida de Negri
Lá estava ela, sentada na cadeira de
balanço. A cada ranger, se encadeava um pensamento.
A velha era magra, com parcos cabelos
brancos que tentavam cobrir o couro cabeludo brilhante.
Quando ainda saía às ruas, sempre cobria
a cabeça com um pano florido, não se sabe se inconscientemente, relembrando o
costume africano, ou se era mesmo para cobrir a careca já iniciada.
Agora, naquela cadeira, com a bengala ao
lado, somente recordava. Há setenta e cinco anos, lembrava da menina magrinha,
cheia de trancinhas, perambulando pelas ruas a lutar espertamente a fim de
ganhar um doce ou um sorvete na venda.
Na época de frutas, lá ia ela com uma
cesta de vime a vender limões, mangas e até tamarindos. Lembrava-se sempre do
conselho de sua mãe, pois não conhecera o pai.
- “Nunca roube, peça, pois pedir não é
feio. Feio é roubar!”.
Seguiu aquele conselho por toda a vida,
ensinava-o a todos os que cruzavam o seu caminho. Agora, ali na cadeira,
lembrando isso, sorria feliz.
Quantas vezes seus pés descalços não se
queimaram nos paralelepípedos quentes, ao sol do meio dia, nos dias de verão,
quando na porta do mercado se oferecia para levar as sacolas das madames,
cheias de quitutes que ela nunca iria comer, e lembrava o conselho de sua mãe.
Das sacolas que levava nunca sumira nada!
Então, seu rosto, que ostentava um buço
branco, fazia com que as extremidades se levantassem num sorriso feliz.
Quando um caco de vidro, ou espinho,
penetrava na grossa sola dos pés curtidos na terra batida ou no cimento
vermelhão, lá ia ela, com uma agulha de costura, bancar o cirurgião para
retirá-lo.
Lembrava o prazer que sentia quando
conseguia fisgá-lo e trazê-lo para fora. Então, sua face, mais uma vez se
iluminava com um sorriso naquela boca murcha e desdentada.
Sempre fora feliz, nunca reclamara da
vida, vida esta, que foi um eterno servir. Servir, doar, ter compaixão, esta
era a sua sina.
No entanto, nunca interpretara isso como
sina ou missão. Servia apenas porque servia, doava apenas porque doava.
Diferente da oração de São Francisco “é
doando que se recebe”, nunca esperou receber nada de volta. Apenas doava.
Seu bisneto, hoje com 18 anos, dizia que
ela era ignorante, ao que a velha negra repetia:
- “É mesmo, sou ‘inguinorante’!”
E naquele dia, seus olhos semi-cerrados
, um sorriso no rosto, lágrimas nos cantos dos olhos, já quase 6 horas da
tarde. Os estalos do balançar foram diminuindo a frequência, até que pararam.
Dias após, no Centro Espírita, em meio à luz de felicidade que fez todos ao redor da mesa mediúnica chorarem, ela mandou uma mensagem dizendo que o próprio Zumbi dos Palmares, junto com São Francisco de Assis, vieram recebê-la quando saiu do velho corpo negro.
Os dedos de Rosa Carmen
Luciano Martins Verdade
Sei
que vou morrer
não
sei o dia
e
o remorso talvez seja a causa do meu desespero.
Mas
sem desespero
levarei
saudades de Rosa Carmen
o
que, não sendo uma rima
é
tampouco uma solução.
Sei
que vou morrer não sei a hora
e
serei sempre teu
catito,
catito catito, mio
numa
batucada de bamba
gravada
em estéreo em compact-disc
na
cadência bonita do samba
dos
teus dedos serenos de mãe
em
meus cabelos revoltos de filho
em
tantas noites sem fim
em
que se iam os dedos
mas
ficavam os cafunés.
Porque
os filhos são todos iguais
por
mais iguais que não sejam.
Porque
busco em minhas entranhas tuas ideias
e
não as encontro
mas
encontro a música dos teus dedos,
fazendo
caminhos de rato em meus cabelos
até
que eu durma
sem
saber o dia
sem
saber a hora
sem
remorso
nem desespero.
AVE
MULHERES
Ivana Maria França de Negri
Ave mulheres
Cheias de graça
Benditas sois
Entre todas as criaturas
Abençoados os frutos
De vossos ventres
Santas Marias, Anas
Beneditas, Joanas
Martas, Madalenas
Sofias, Helenas
Bem-aventuradas as sementes
Gestadas em vossos úteros
Amém
Mulher-flor
Tecelã
do cotidiano
Dulce
Fernandez
Ajeita
pensamentos
Nas
gavetas da cômoda;
Despenteia
recordações
Com
ramos de luar;
Mistura
mistérios e fantasias
No
liquidificador dos sonhos;
Joga
tristezas e amarguras
Pela
janela da sala;
Digita
versos de amor
No
teclado das ilusões;
No
piano da sedução
Toca
música de magia;
Com
o eco das sombras
Acende
achas de desejo;
Como
cores do arco-íris
Cobre
o corpo em febre intensa;
Na
água fria do chuveiro
Desperta
a alma;
Pendura
nos varais
Retalhos
de vivência;
Com
suspiros do vento
Golpeia
teias de saudades;
Esconde
lágrimas doloridas
No
relicário do silêncio...
MULHERES
Andre Bueno Oliveira
Brilho nos olhos, doce encanto,
rosto molhado pelo pranto,
sorriso alegre no semblante,
amiga, mãe, esposa, amante!
Do lar, da vida, secretária,
remunerada ou voluntária,
juíza , médica, estudante,
estéril, fértil ou gestante!
Laboriosa, toda suada,
toda elegante e perfumada,
de coração nobre e profundo,
reverenciada em todo o mundo!
Diz “Não” quando a vontade é “Sim”...
É complicada... mas enfim,
tente entendê-la quem puder!
Mulher! Mulher! Mulher! Mulher!
A
FORÇA DA MULHER
Aracy Duarte Ferrari
Palavra
fortemente
Enunciada,
Sonhos
acalentados
Personificados
Em
sentimentos…
Essência
do belo
A
suprir desejos
E
expectativas!
Mulher!
Na alma e no espírito
O
instinto materno,
Familiar
e harmonioso...
Prudência,
equilíbrio terno,
Para
conquistar espaços.
E
bom senso no desenrolar das
Sequências
e consequências!
Mulheres
Paulo
Ricardo Sgarbiero
Ah! Estas mulheres
Não há como delas falar,
Sem
eventualmente alguém plagiar,
Pois
estamos sempre a contar
O
quanto é bom a elas amar.
O
amor do pai,
Que
não importa o tempo que passar,
Dela
sempre vai querer cuidar,
De
tudo e de todos proteger,
Até
o dia em que perecer.
O
amor do filho,
Que
dela tanto depende,
Que
lhe entrega o alimento e o defende
De
todo tipo de inconveniente
Que
ponha em risco seu eterno carente.
Do
marido,
Que
de todo o coração,
Busca
lhe dar atenção,
Atendendo
suas necessidades,
E
sempre lhe trazer felicidade.
Não
importa quem seja,
E
também o que deseja,
Pois
sem uma mulher presente,
Será
sempre um padecente.
Ésio
A. Pezzato
A
força da mulher empoderada,
Deixa-a
mais bela, rígida e mais forte,
Altiva
– sem jamais perder o porte,
Essa
mulher é luz na madrugada.
Vence
e se vangloria na jornada,
Seus
olhos brilham sempre para o norte,
Jamais
se queda junto à crua morte,
Essa
mulher contém alma encantada.
Sorri
– e a força e graça do sorriso,
Ensinando
caminho do paraíso,
E
segue sempre em seus ardentes passos
A
jornada da vida mais completa.
Sendo
mulher – tem alma de poeta,
E
sendo musa em si tem os espaços.
A você, Mulher!
Ana Lucia Stipp Paterniani
Que traz encantamento
a esta feliz cidade.
Que tem a graça de contar,
entre outras delícias,
com essa sua dança...
Que traz o ritmo de quem menstrua
amamenta, sua
inventa mil maneiras criativas
de exercer o seu ofício,
sem deixar de ser mulher...
Pra cuidar de tanta gente:
família, colegas, amigos
e toda a população...
Só mesmo sendo um pouco feiticeira
e tendo um enorme coração
Que possa então ter sempre
seus direitos respeitados,
seu valor reconhecido
E assim viver sua vida
com muita dignidade.
E para aquelas que já partiram
para outras vidas,
que recebam, numa prece,
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