Casa em ruínas
Aquela casinha distante
Recortada no horizonte
Em ruínas e sem valor
Derramava suas lágrimas
Recordando quanta vida
Preencheram suas paredes
E tudo mais ao seu redor
Um casal apaixonado
Gritinhos de crianças
Ecoavam pelo ar e
Agora sem calor
Sem abrigo
O vento frio estilhaçando as janelas
Levando restos de saudades
Suspiros de amor.
O bosque
Imaginam vocês onde se fazia macumba na Piracicaba do século passado? Havia uma árvore grossa, bem no meio do bosque, que ficava do lado de cá do Cemitério da Saudade, com o tronco todo enrugado e galhos fantasmagóricos. Era nesta árvore, num nicho feito em seu tronco, onde sempre se viam tocos de velas, que deveriam ser usadas para chamar as almas penadas, igual à daquela moça, que numa certa manhã, foi encontrada morta, porque atravessou o bosque, quando voltava de um baile. Mas, para outros, não era macumba coisa nenhuma! Esses acreditavam que eram anda¬rilhos e malfeitores, que dormiam por ali e faziam do bosque seu esconderijo, que acendiam essas velas, no meio das árvores frondosas e perto de um bambuzal fechado que ficava quase no meio do terreno, junto a uma clareira arenosa. Esta certeza se solidificava ainda mais porque muito se ouvia falar que bandidos se escondiam entre as árvores e que roubavam, surravam e faziam mal a qualquer pessoa que passasse por ali à noite. Como todas as lendas têm fundamento, esta, se fosse mesmo lenda, também tinha, nas peças de linho, cretone e casimira, que dizem, tinham sido roubadas de uma loja ali dos arredores.
E para aqueles que já devem estar perguntando ou imaginando onde era esse local, imaginem o quadrilátero formado pela Rua Silva Jardim, Rua São José, Avenida Independência e Rua Moraes Barros, onde hoje está a sapucaia, enfeitada na época de Natal pelas pessoas da Cidade Alta, que é a única árvore remanescente do antigo Bosque do Bairro Alto. Onde era o bosque, hoje é o Estádio Barão de Serra Negra e o Ginásio de Esportes “Waldemar Blatkauskas”.
O tal bosque era um local que assustava crianças e adultos, principalmente durante a noite. O chão da clareira era de uma areia muito fina, onde as crianças brincavam com seus velocípedes, na companhia de irmãos mais velhos ou das babás, que se sentavam no meio das crianças para contar lindas histórias e contos-de-fadas. Ali, os meninos jogavam pião, barrabol, bolinhas de gude, pique, passa-anel, esconde-esconde, cabra-cega, e ainda para fazer algumas traquinagens, como retirar o visgo de certas plantas para apanhar passarinhos que ficavam grudados naquela cola, para depois serem colocados nas gaiolas. Outra armadilha muito usada era a arapuca, na qual, com paciência, se esperava que a presa incauta viesse comer a isca de quirera.
Mas o Bosque tinha outras lendas, que povoavam a mente do povo da época. Eram histórias de fantasmas, de almas penadas, que saíam do cemitério para aterrorizar os vivos. Por isso era preciso ter muita coragem para chegar perto do bosque e do cemitério à noite, porque, segundo se comentava boca à boca, tudo o que se comentava era a pura verdade.
Muitos devem lembrar da lenda do fantasma de uma moça loura, que saía de dentro do cemitério e solicitava companhia de quem passasse ali por perto.
Segundo um dos muitos relatos, que ouvi quando era ainda
muito criança, dizia-se que um homem deveria passar à noite, de qualquer maneira, em frente do portão do cemitério, e como ele estava morrendo de medo, andava a passos rápidos para chegar logo ao outro lado. Naquela angústia e por causa de toda aquela pressa, ficou muito aliviado quando viu o vulto de um homem que ia logo a sua frente. Correu até alcançá-lo e disse:
– Que bom que você está aqui! Posso acompanhá-lo? É que eu morro de medo de passar em frente do cemitério à noite!
Ao que o desconhecido então lhe respondeu:
– À vontade! Vamos passar juntos. Entendo bem a sua preocupação, pois quando eu era vivo, também tinha muito medo de passar por aqui!
Imaginaram o susto? O homem correu gritando como louco, descendo pela Rua Moraes Barros e só parou quando estava perto do ribeirão do Itapeva, hoje Avenida Armando Salles de Oliveira!
Quimera
Estava debruçada à beira do penhasco, observando o ir e vir das ondas ricocheteando nas rochas e explodindo suas águas enérgicas que pareciam zangadas. Relâmpagos tremeluziam no horizonte escuro pelo entardecer preste a se findar.
Elas deveriam estar cansadas por virem de tão longe, se des¬dobrando em vagas desde outras terras distantes, onde as praias e pessoas tão diferentes em todas as costas deveriam despertar-lhes as curiosidades e então se espraiavam sobre a areia querendo ver mais adentro, ou pretendendo subir pelos rochedos para espreitar o que havia por trás deles. Queriam conhecer os homens e como eles viviam porque não os compreendiam...
Às vezes queriam saber o que existia dentro daqueles navios tão grandes ou barcos à vela, e, então, se tornando gigantescas, lavavam todo o tombadilho trazendo muitos objetos que estavam neles. Uma linda mocinha toda vestida de branco, da cor das suas espumas num tecido esvoaçante, chamou sua atenção quando ela se debruçou na balaustrada de um iate que passava. O vento enfunando suas ondas arremeteu-as para dentro do
iate, trazendo para si a linda moreninha junto dos outros destroços. Ela gritava, chamando por seus pais, batendo pés e mãos. E não é que ela sabia nadar, pois até conseguiu se agarrar numa tábua que flutuava? Essa foi sua salvação, até que tudo foi se acalmando, o tempo, que não estava nada bom, prenunciando uma tempestade com relâmpagos coriscando o céu, foi se acalmando como que por encanto.
O mar queria tanto ficar com a garota para sempre junto dele, mas pensou: não valeria a pena, os homens eram mortais, não duravam para sempre, ele bem o sabia, suas vidas eram falazes. Então, para que ter esse desejo? Isso era apenas uma quimera!
O mar mostrando seu amor pela garota, deslizando as águas sobre seu corpo como para conhecê-lo centímetro por centímetro, foi levando-a para a praia mansamente, embalando aquele corpo frágil.
Quando ela é depositada a salvo na praia, as ondas recuam e, suspirando, acordam daquele rompante para chegarem à conclu¬são de que a mocinha nada representava de especial que merecesse sua curiosidade, tinha vida efêmera como qualquer ser humano. E, como ser humano, não era nada confiável, porque são de uma espécie predadora que onde tocam estragam, não são unidos às leis universais, eu mesmo já não sou o mesmo, não sou tão limpo nem sadio e nem os que convivem comigo. Muitos espécimes nem mais existem pela ganância, tiram mais do que precisam para viver, sujam minhas águas com óleos que matam peixes e até aves marinhas que são do espaço. Animais marinhos estão se deslocando do seu habitat porque os humanos estão conseguindo destruir até o clima, o ar e o gelo. Tive-os sempre como meus amigos, mas agora não confio mais, eu levo-os para o fundo, se eu puder, pois são perigosos para a fauna e a flora.Os atóis estão diminuindo com a poluição, estão deixando de colorir este nosso mundo encantado. Liquens, algas, musgos, conchas com suas pérolas, estão com os dias contados.
Tudo na terra é criação de Deus e todos se beneficiam da sua criação numa dependência recíproca e benéfica e, sendo cíclica, entram em cadência uns com os outros. Por isso, todos devem se respeitar para haver harmonia e sobrevivência unânime a todos que pertencem à cadeia da Criação de Deus.
Tudo isso estou pensando mas é em vão, se essa moça e toda sua espécie não tiverem consciência disso.
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