Colaboração do Acadêmico Antonio Carlos Neder
Cadeira n° 15 - Patrono: Archimedes Dutra
Formar e prestar serviços
“Este trabalho é dedicado ao meu querido patrono, Professor Universitário, Doutor em Artes Plásticas, e que sempre se preocupou com a educação e cultura e imprimindo sua maravilhosa espiritualidade em todos nós”.
É oportuno, neste momento em que se processa a reordenação da economia brasileira, esteja reativado o debate sobre o papel da Universidade, no que tange à retomada do desenvolvimento. É preciso lembrar que a oferta de bens e serviços à população, em quantidade e qualidade adequadas, que depende, não só da disponibilidade de capital, mão de obra e matéria-prima, mas também do conhecimento científico-tecnológico, tem sido, teimosamente ignorada pelos nossos planejadores.
Isto explica em parte a penúria em que se encontra o nosso embrionário sistema da ciência e tecnologia, que tem como peça principal a Universidade.
Os conhecimentos científicos, básicos e aplicados, ontem desenvolvidos nas Universidades, constituem os alicerces da tecnologia de hoje, responsável direto pelo bem estar material da sociedade moderna.
De forma imprevidente, o modelo econômico que norteou o país nas últimas décadas prescindiu da competência nacional, importando maciçamente tecnologia para viabilizar o crescimento rápido, sem, concomitantemente, montar uma estrutura de geração de conhecimentos científicos técnicos, ágil e eficiente. Como resultado, temos o atual estado de vulnerabilidade tecnológica em que se encontra o país.
A indústria e agricultura brasileira que indubitavelmente atingiram a maturidade na produção, ainda não dominam o conhecimento que manipulam, detido, em grande parte, pelos fornecedores da tecnologia. Esta situação é no mínimo inconveniente para uma estrutura produtiva que necessita crescer e ser modernizada para eliminar as carências materiais da população.
Felizmente, firma-se cada vez mais na sociedade brasileira a consciência de que o desenvolvimento integral voltado para os reais interesses da nação exige a ampliação de nosso grau de autonomia tecnológica. O impacto da introdução de novas tecnologias no setor de produção fruto de conhecimentos científicos, relativamente, recente da nanotecnologia, biotecnologia e de novos materiais, exige que países como o Brasil, que aspiram deter autonomia em suas decisões, aproveitem e valorizem não só suas matérias-primas, mas também identifiquem, nas suas tecnologias, os nichos onde a capacidade científica e tecnológica nacional possa ser exercitada com maior rendimento.
A recuperação do atraso tecnológico, e o ganho de autonomia, só serão possíveis, no entanto, através de investimentos maciços da educação, na pesquisa e desenvolvimento, da estreita sintonia entre os três principiais protagonistas do processo: o governo, o setor de produção e a Universidade.
A alocação de recursos de ciência e tecnologia, por parte do governo e das empresas, é uma decisão de natureza política e, por isso mesmo, sujeita às mais variadas injunções. O problema, real-mente, não é a disponibilidade de recursos e, sim, vontade e capacidade e outras condições favoráveis para decidir. O governo federal e o estadual já têm recentemente dado mostras corretas de empenho na promoção do desenvolvimento educacional e de pesquisa cientí¬fica. O orçamento do MEC e o orçamento substancial da dotação do Tesouro Paulista para a Fundação de Amparo à Pesquisa, bem como a recuperação parcial dos salários das Universidades são demonstrações firmes, embora, ao nosso ver, tímidas, na direção da eliminação das perdas sofridas pelo sistema de ciências e tecnologias nos últimos governos. As perdas foram de tal forma que quase comprometeram a sobrevivência da Pesquisa e do Ensino Universitários em nosso país.
Cada vez mais consciente da sua vulnerabilidade tecnológica, o setor de produção brasileiro já dá os primeiros passos na direção da autonomia. O número de centros de pesquisa e desenvolvimento industrial e agrícola nos setores privado e estatal tem crescido em número e qualidade nos últimos anos, empregando mais cientistas e tecnólogos de alto nível. O avanço brasileiro nas áreas das indústrias aeronáuticas, de telecomunicações e de agricultura em geral só foram possíveis pela existência de uma sólida estrutura de pesquisa e desenvolvimento na retaguarda onde também incluiu a Universidade.
As três funções básicas da Universidade, nunca é demais repetir, são: formar pessoal, gerar conhecimento de qualidade e prestar serviços à comunidade. Em um país como o nosso, no entanto, com problemas sociais seríssimos a resolver, a Universidade tem que se envolver necessariamente com o Brasil real, nas suas mais variadas facetas, prestando sua colaboração. Infelizmente a estrutura da Universidade atual, implantada em um contexto de crescimento rápido, sem muita reflexão, impede experimentação avançada em ensino e encara com desconfiança a interação mais íntima e com-prometedora em termos profissionais, com as forças produtivas da sociedade.
Modificações estruturais são necessárias para abrir a Universidade ao país, mesmo em instituições jovens como a Unicamp, que tem se destacado com a flexibilidade na interação externa.
O processo de formação da competência nacional, científica ou tecnológica envolve necessariamente a Universidade, onde é educado o profissional de alto nível. Esta compreensão deve em curto prazo traduzir-se em apoio efetivo, seja financeiro, seja político, às atividades universitárias para eliminar as distorções existentes. Com competência nacional, temos condições de viabilizar o país. Afinal, quem não tem competência não se estabelece, como diz o ditado.
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