Cadeira n° 20 - Patrono: Benedicto Evangelista da Costa
Professor Benedicto Evangelista Costa
O professor Benedicto Evangelista da Costa nasceu em Piracicaba em 24/6/1921, filho de Benedicto Mariano Costa e Benedicta Rolim Costa .
Frequentou as escolas primárias de Santa Terezinha, grupo escolar do bairro Corumbataí, grupo escolar Dr. Alfredo Cardoso e grupo escolar da Escola Normal Oficial. Estudou também no Colé¬gio Piracicabano e no Sud Mennucci.
Frequentou o atelier de pintura de frei Paulo Maria de Sorocaba.
Em 1944 entrou na Escola de Agronomia Luiz de Queiroz, onde graduou-se engenheiro agrônomo em 1947. Lecionou matemática e desenho no Colégio Piracicabano, Escola de Comércio Cristóvão Colombo, Ginásio Estadual de São Pedro e efetivou-se na cadeira de desenho, lecionando em Nova Granada,Viradouro, Santa Barbara D’oeste e finalmente no Instituto de Educação Sud Mennucci.
Foi aí que meu destino cruzou-se com o do distinto professor, na disciplina de desenho geométrico.
Tinha meus quinze anos, e cursava o primeiro científico, hoje, primeiro ano do Ensino Médio. Fui levado à sala de desenho no segundo andar do Sud, que possuía carteiras especiais para tal estudo, parecidas com as pranchas onde os arquitetos trabalham.
À minha frente, imponente, dentro de seu terno impecável, o professor Costa impunha respeito e segurança de quem conhece o que faz e ama o seu trabalho, passando os dez mandamentos para os estudantes de desenho geométrico:
1. Possuir todo o material de desenho geométrico.
2. Ao comprar o material de desenho, preferir sempre o de melhor qualidade.
3. Conservar cuidadosamente o seu material de desenho, para que esteja sempre em condições de trabalho.
4. Guardar bem, em estojo apropriado, todo o material de desenho, evitando assim perda de tempo por extravio de uma ou outra peça.
5. Empregar cada instrumento de maneira conveniente, a fim de assegurar sucesso nos trabalhos, bem como discipliná-lo de forma a satisfazer os objetivos da matéria.
6. Procurar, em seus trabalhos, atender às imperiosas necessidades da ordem, limpeza, uniformidade e precisão.
7. Seguir sempre a orientação das pessoas mais experientes.
8. Não decorar aquilo que é ensinado, procurando empregar sempre o raciocínio para que se preencha outra finalidade muitíssimo importante do desenho geométrico, qual seja a de desenvolvimento daquela faculdade que, de um modo geral, é relegada a plano secundário pelos estudantes.
9. Estudar com dedicação e vontade de aprender.
10. Ter sempre em mente que a dedicação ao desenho técnico se dilate com a evolução da capacidade criadora do homem.
Eu, estudando na melhor escola de Piracicaba na época, que era o Sud Mennucci, como quase todo jovem adolescente, detestava regras, detestava estudar muito, estudava apenas o mínimo necessário para passar de ano, preferindo as brincadeiras e diversões e, portanto, não respeitei nenhum dos mandamentos, fui um “pecador “.
Demoradamente, o fim do ano chegou. Naqueles idos, parece que o tempo passava mais lentamente que hoje.
Veio o exame final e não consegui a nota necessária para passar. Veio a segunda época, que hoje se chama recuperação, e fui reprovado.
Nessa minha primeira e única reprovação, fiquei revoltado com o mestre e fui a ele recorrer pelo meio ponto que faltava.
Com aquela sabedoria de um verdadeiro professor e a paradoxal rigidez e ternura de um pai que ama seu filho, disse-me que iria manter a reprovação e que um dia, eu iria agradecê-lo por isso, pois vendo minhas notas dos anos anteriores, notou que o ano todo eu tirava notas baixas e somente no exame final tirava nota alta para passar raspando e, segundo ele, eu era inteligente, mas preguiçoso.
Tive que repetir o ano, mas com a diferença de que daí para a frente, aprendi a lição, transformando-me em um bom aluno.
Graças a essa mudança, consegui ingressar na faculdade de medicina e me formei.
Anos mais tarde, nossos caminhos novamente se cruzaram, agora eu como médico, ele como paciente.
Foi então a oportunidade de agradecê-lo, como ele havia previsto anos antes.
Após relembrarmos velhos tempos, disse-lhe:
– Professor Costa, hoje estou agradecendo pelo senhor ter um dia me reprovado, pois se não o fizesse, hoje não estaria fazendo o seu exame de ultrassonografia!
Vi que de seus olhos uma lágrima disfarçada escorreu, gerada pela emoção de que havia cumprido o seu dever para com o aluno. Foi assim que nossos caminhos se cruzaram e ele mudou o rumo da minha vida.
Quando me pediram para escolher o patrono da cadeira número vinte da Academia Piracicabana de Letras, nem pensei uma segunda vez para escolher o professor Benedicto Evangelista Costa, o homem que mudou minha vida e assim agradecê-lo pela segunda vez com esta singela homenagem.
Obrigado mais uma vez, professor Costa!
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