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Luto
Convidado pelo ilustre acadêmico Prof. Armando Alexandre dos Santos a redigir um artigo para a revista já vitoriosa da Academia Piracicabana de Letras, pensei em vários temas que passavam por mim, porém, decidi-me ao ler um dos artigos da minha colega Taísa Berlingieri, filha de meu amigo Mario Berlingieri, de Jaboticabal – SP, exímia psicóloga e pesquisadora do problema luto, inspirada nos versos de Carlos Drummond de Andrade em seu poema PARA SEMPRE e também em artigos da jornalista e escritora Eliane Brum.
Por ser o mês comemorativo do dia das Mães, ela compartilhou com o leitor o texto, pude refletir introspectivamente a suas escritas:
PARA SEMPRE
Por que Deus permite que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite, é tempo sem hora,
Luz que não se apaga quando sopra o vento
E chuva desaba, veludo escondido,
Na pele enrugada, água pura, ar puro, puro pensamento.
Morrer acontece com o que é breve e passa sem deixar vestígio.
Mãe na sua graça, é eternidade.
Por que Deus se lembra
– mistério profundo –
De tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
Baixava uma lei:
Mãe não morre nunca, mãe ficará sempre,
Junto de seu filho e ele, velho embora, será pequenino
Feito grão de milho.
A autora afirma que as mães não deveriam morrer. Senti tanto o desamparo de uma amiga que perdeu a sua mãe porque sei que as mães não deveriam morrer.
Quando perdemos alguém que amamos, a dor é tão extravagante que nos come vivos, como se fosse uma daquelas formigas africanas que vemos nos documentários da National Geographic. A dor está lá quando acordamos, continua lá quando respiramos. Espreita-nos do espelho diante do qual escovamos os dentes de manhã com um braço que pesa uma tonelada. E, quando por um instante nos distraímos, crava seus dentes bem no coração. Neste longo momento depois da perda, sabemos mais dos buracos negros do que os astrônomos, porque carregamos um dentro de nós. E arrancamos cada dia nosso do interior de sua boa ávida, com uma força que não temos, para que não nos sugue de dentro para dentro.
O artigo escrito pela psicóloga Taísa Berlingieri colocou em mim uma reflexão positiva a respeito da morte, que já havia adquirido quando tive a oportunidade de escrever meu livro há alguns anos, como o tempo sendo um período só dele e que não pode ser determinado em parte alguma e nem por ninguém. Vamos começar a perceber que a mãe é uma ausência presente, poderemos reencontrar a mãe dentro de nós mesmos.
Profundamente agradecido à Srta. Taísa por ter-nos dado esses ensinamentos.
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